Saturday, April 28, 2007

Some Lines from the Portuguese


«A apresenta uma opinião, enquanto B pensa na que irá injectar logo que possa, de forma decente. Isto é uma troca no sentido em que “trocamos” saudações: oferecemos uma fórmula e é-nos oferecida outra, mas geralmente vamo-nos embora com a nossa.»

J. Barzun, The House of Intelect, p. 63.


Há mais de quatro décadas, Jacques Barzun ocuparia boa parte de um dos capítulos da sua obra The House of Intelect (1959, 2002) lamentando o declínio da conversa como forma privilegiada para o debate de ideias e para o exercício produtivo das nossas capacidades intelectuais. Segundo ele o hábito de conversar intelectualmente desapareceu quase por completo na sociedade ocidental. Em vez de construirmos uma conversa, articulando o nosso raciocínio no dos nossos interlocutores, analisando argumentos, avançando para novas ideias, limitamo-nos a "trocar ideias", no sentido comercial do termo. Toma lá a minha opinião, dá cá a tua, e pronto, já está, ficamos à mesma na nossa e tudo fica na mesma.

A razão para esta situação, segundo Barzun, está naquilo a que chama a ascensão das “maneiras” dos “bons modos” que, a coberto de pretensos ideais democráticos, parece querer a todo o custo evitar os problemas e os confrontos, em busca de um consenso que a ninguém desagrade e a todos satisfaça.

Realmente, embora escrito em 1959, isto retrata a actualidade da nossa vida intelectual e académica de forma atrozmente rigorosa. Ninguém está para pensar sobre o que os outros dizem. Apenas se aceita ou recusa, ponto final, sem mais elaboração. E quando as ideias diferem, o mais habitual é uma de duas soluções, ou ignorar as opiniões adversas ou então atacá-las como ofensivas sem discutir os seus argumentos. Agora discutir ideias, analisá-las, aperfeiçoá-las, modificá-las perante os outros, isso é que não porque parece ser sinal de fraqueza das nossas próprias convicções ou crenças.

Esta atitude traduz-se, na prática, numa crescente esterilidade do que passam por ser os “debates” de ideias no nosso país da vida política à académica mas passando por quase todos os aspectos da nossa vida.

— Paulo Guinote, in Associação de Professores de História, Opinião, Sobre a Decadência do Debate de Ideias